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O tempo no Sátão

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Reacendimentos aumentam pelo quarto ano consecutivo. Peritos analisam desempenho de Portugal


Até 15 de Agosto houve 509 reacendimentos de fogos, um aumento que se registou pelo quarto ano consecutivo (foram 425 em 2009 e 62 em 2007). As comparações europeias também não ficam bem na fotografia: segundo os dados do EFFIS, já arderam 96 mil hectares na UE desde o início do ano, o que significa que os 71 mil portugueses representam cerca de 73% do total. Metade dos mais de 300 fogos diários registados na primeira quinzena de Agosto foram causados por negligência.

Calor, humidade reduzida e um Inverno e uma Primavera chuvosos, que aumentaram as acendalhas na floresta, podiam ser sinónimos de um ano como 2003. Ainda assim, a área ardida até ao momento é menos de um quinto da que ardeu até ao mesmo período no ano negro, disse ontem o ministro da Administração Interna.

Mas não é só a área ardida que conta e, segundo especialistas contactados pelo i, há lacunas à vista. "Comparando com os últimos três anos, os combustíveis estão muito mais secos. O número elevado de ocorrências, em zonas de acesso difícil, pode não permitir o rescaldo em todo o perímetro", explica ao i Domingos Xavier Viegas, especialista da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, para quem as melhorias no combate salvam o balanço num ano de "circunstâncias más." Já Joaquim Sande Silva, especialista da Liga para a Protecção da Natureza, diz que "os reacendimentos reflectem a formação e a dispersão dos meios." O rescaldo "continua a fazer-se com água, quando deveria limitar-se a área queimada com ferramentas manuais. Os bombeiros voluntários não têm essas apetências, e GIPS [Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro da GNR], sapadores ou canarinhos são a minoria da população de combate".

Na cauda Para Francisco Moreira, investigador do Instituto Superior de Agronomia, perceber como Portugal soma mais de 70% da área na ardida na UE é "a pergunta do milhão de dólares". Parte da resposta é o facto de o número de ignições (14 661 até dia 15) ser "muitíssimo superior aos países do Sul europeu". Fogos para renovar pasto em época crítica, foguetes das festas e "campistas que continuam a foguear em situações inadmissíveis" são algumas explicações. Sande Silva vê outras falhas. "Noutros países até se deixa arder no Verão porque se sabe o que pode arder. Estamos longe desse tipo de gestão. Se se viu algum avanço desde os anos críticos de 2003/2005 foi no combate. Na prevenção das ignições e na gestão da florestal, está tudo praticamente na mesma." Basta comparar com Espanha: no ano passado 10 703 incêndios queimaram cerca de 93 mil hectares. Em Portugal foram 26 339 e arderam 86 016.

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