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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

82,2% das Chamadas Para o 112 São Falsas

Perigo Risos, histórias de acidentes e silêncio são o conteúdo de algumas das chamadas falsas recebidas pela central 112 da PSP. A maioria dos casos são detectados mas, na dúvida, são enviados meios que podem fazer falta noutro local para um socorro em que a vida de alguém está em jogo.
“.............” Silêncio, risos ou até histórias um tanto ou quanto convincentes são o conteúdo de algumas chamadas falsas para a linha de emergência 112. No intervalo das aulas, Ana, 11 anos, lembrou-se de pegar no telemóvel e digitar 112. Não falou. Após meia dúzia de segundos desligou no meio de risinhos com as colegas. Porquê? Porque lhe apeteceu.
Esta é uma situação mais comum do que se possa pensar. No distrito de Leiria, até Outubro, 82,2% das chamadas para o 112 foram falsas. Já no ano 2011, a linha tinha registado uma percentagem de 80%.
Se, felizmente, a mobilização de meios nem sempre traz consequências graves, o risco de ´matar´ alguém é elevado. Isto porque os meios são limitados e se estiverem todos accionados em simultâneo, o próximo socorro pode ficar comprometido.
Maciel Rocha, subcomissário da PSP de Leiria, esclarece que o principal problema prende-se exactamente com a “ocupação da linha”. “Na maioria dos casos consegue-se perceber que se tratam de chamadas falsas”, acrescenta o agente.
A PSP procura sensibilizar a população e as crianças através das suas acções da Escola Segura e nas actividades que assinalam o dia europeu do 112. “É importante perceber que ao ocupar a linha com uma brincadeira, poderemos estar a impedir o acesso a um verdadeiro socorro”, sublinha.
Desengane-se quem pensa que as brincadeiras são apenas da autoria de adolescentes. João Lázaro considera que as chamadas falsas por parte de adultos acontecem quando existe uma “perturbação moderada”. Ou seja, tratam-se de pessoas que “não são capazes de diferenciar o princípio do prazer do princípio da realidade”.
Para o psicólogo, a “pouca adesão à realidade destes indivíduos, impede-os de avaliar correctamente as consequências das suas acções”. Por isso, “face à necessidade de satisfazer uma pulsão - a excitação de se sentirem poderosos porquanto algures alguém obedece às suas ´ordens´ - não hesitam em passar ao acto e exercerem esse seu fantasiado poder”.
João Lázaro acrescenta que estas perturbações fazem os seus portadores sentirem “uma grande gratificação por verem meios e sujeitos, que hipoteticamente invejam pelo seu desempenho e/ou saber, a serem ´comandados´ por si”.

21 mil chamadas falsas para o INEM

Diariamente, dezenas de ambulâncias de socorro do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), dos Bombeiros e da Cruz Vermelha Portuguesa são enviadas para situações de emergência médica que… não existem. Segundo dados do INEM, os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) receberam, em 2011, mais de 21 mil chamadas falsas, o que obrigou à saída “desnecessária” de 7.634 ambulâncias.
“As chamadas falsas são um gesto irreflectido e que poderá causar graves prejuízos na assistência a quem realmente necessita. É que, para cada situação de emergência médica, os CODU do INEM procuram accionar os meios que estejam mais perto do local da ocorrência”, alerta o INEM.
Jacinta Gonçalves, psicóloga do INEM, refere que a maioria das chamadas falsas ficam retidas na PSP, mas quando as histórias são credíveis, o alegado pedido de socorro é transferido para o CODU. “Por vezes, dizem que se trata de um acidente grave, com vários feridos e pessoas encarceradas. São enviadas para o local ambulâncias, a viatura de emergência médica e o carro de desencarceramento dos bombeiros para nada”, afirma.
Em Leiria, por exemplo, “existem apenas dois veículos de emergência médica, se estiverem ocupados com falsos socorros não poderão ser enviados de imediato para uma ocorrência verdadeira, onde alguém pode correr risco de vida”, alerta ainda.
Poucas são as chamadas que lhe chegam, mas a psicóloga recorda uma ameaça de suicídio. “A voz era de uma adolescente que dizia que se ia matar. Fiz-lhe várias perguntas, mas ela não respondia correctamente ou fazia-o de forma baralhada. Ouvia uns risos de fundo e o telefone parecia estar em alta voz. Nunca deu elementos precisos.” Apesar de ter percebido que se trataria de uma brincadeira, “há sempre uma dúvida que fica”, por isso, “se tivesse a morada tinha pedido à PSP para passar no local e confirmar”.

Elisabete Cruz - elisabete.cruz@jornaldeleiria.pt
Fonte: jornaldeleiria.pt

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